P&N – Essência da vida: inclusão, sensibilidade e superação.

    “A esperança vê o invisível, sente o intocável e alcança o impossível.Tudo no seu momento.” – Fernando Fernandes – atleta paralímpico da Canoagem.

Temos vivido mergulhados em um país com graves problemas estruturais de ordem política e social, onde a maioria do nosso povo, apesar de viver em uma riquíssima extensão geográfica, com valiosos recursos naturais, paradoxalmente ainda não tem acesso à educação, à saúde, a padrões de qualidade de vida aceitáveis!                           E essa análise é ainda mais crítica, quando nos voltamos para as pessoas com algum tipo de deficiência física, emocional e/ou intelectual, sobreviventes neste cenário social de contradição, alta precariedade e exclusão.                  Isso nos leva a diversas reflexões, como por exemplo: se pessoas aparentemente tidas como normais e perfeitas têm dificuldade para conseguir emprego e oportunidade de desenvolvimento profissional, o que podem esperar as pessoas com algum tipo de deficiência? Como podem chegar a ter uma profissão e, ainda, ser bem-sucedidas? Embora saibamos que hoje, para as pessoas com deficiência, as coisas estejam bem melhores do que há pouco tempo, também temos consciência de que ainda estamos engatinhando, no que se refere à sua inclusão social, e de que ainda há muito trabalho a ser feito.                                                                                                                                           Setembro de 2016, no Brasil: uma experiência surpreendente na cidade maravilhosa do Rio de Janeiro, durante os Jogos Paralímpicos de Verão. Em onze dias de competição e 528 provas, medalhas foram conquistadas em maior número pelos atletas brasileiros paralímpicos, do que pelos atletas olímpicos, nas Olimpíadas que os precederam.     Além dos investimentos financeiros, a grande conquista, de fato, consistiu no valor transmitido à sociedade: um grande exemplo de acolhimento, sensibilidade, respeito, força de vontade, superação, quando os atletas paralímpicos tiveram a oportunidade de vivenciar e mostrar a mudança ocorrida em suas vidas, por meio do esporte; superando suas limitações físicas, emocionais e espirituais, resgatar a estima, o sentido do viver, e assim, inspirar pessoas no Brasil e no mundo.                                                                                                                            Imaginem se esse exemplo fosse seguido pelas empresas brasileiras? Pois muito se tem falado sobre os desafios para a inclusão da diversidade humana, no entanto, a falta de profissionais e a dificuldade para retenção de PcDs foram os principais fatores que impediram o preenchimento das cotas, segundo as empresas participantes do Benchmarking de Capital Humano 2016, vejam a evolução de preenchimento de cotas nos últimos três anos.

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Precisamos de iniciativas como a preparação de equipes de recrutamento e seleção que permitam um processo seletivo competente e digno, desde, por exemplo, uma entrevista por sinais, até a designação do profissional com deficiência para um trabalho apropriado à sua potência ─ habilidades, competências, dons, talentos ─, para que ele possa, de fato, usufruir do sentimento de pertencer e sentir-se engajado na empresa, a partir de suas reais contribuições. Precisamos, ainda, do investimento em tecnologia e acessibilidade, fundamentais para a quebra de paradigmas e imprescindíveis para facilitar o preenchimento das cotas estipuladas para cada empresa.                         A exemplo do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), investir em tecnologia, na formação e preparação de atletas, é o caminho a ser trilhado para o alcance da meta de colocar o nosso país entre os cinco primeiros, no ranking mundial de medalhas.                                                                                                                                                                                       Nas organizações, para se atingir resultados excepcionais é necessário um ambiente saudável, plural, que favoreça a diversidade de opiniões, decisões criativas, ou seja, novas e diferentes formas colaborativas de se resolver problemas e desafios ─ um verdadeiro equilíbrio entre inclusão social, inovação e produtividade.                                   É importante que RH construa alguns pilares de sustentação para as políticas e estratégias para as PcDs, tais como alinhamento com a alta liderança; sensibilização dos parceiros; capacitação de RH; área médica e jurídica; acessibilidade física e arquitetônica; compra de tecnologias assistivas e, fundamentalmente, “acessibilidade” de atitudes e de comportamentos. Além disso, são fundamentais os programas de desenvolvimento de uma gestão inclusiva – liderança e demais colaboradores –, aprimorando as relações, o convívio e os aprendizados mútuos. Precisamos, cada vez mais, nos conscientizar de que as PcDs são público de interesse não só do RH mas também, e principalmente, das empresas, pois além de produzirem, elas são consumidoras, formadoras de opinião!                     A questão da inclusão de deficientes no mercado de trabalho é um desafio que pode ser visto como uma crise ou como uma oportunidade incrível para os profissionais de RH no preparo das lideranças, para que, juntos, cumpram a missão de serem capazes de selecionar, preparar, formar, desenvolver e reter equipes de “paratalentos”, assim como pudemos testemunhar o desempenho dos campeões paralímpicos!                                                                                Segundo os especialistas consultados na pesquisa PcD S/A, realizada pela Santo Caos, a diversidade impacta a inovação, o aumento do lucro, a melhoria do ambiente, a comunicação, o relacionamento entre os colaboradores e a liderança; e não há dúvida de que um colaborador engajado é um colaborador mais criativo e produtivo.

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Nesse contexto, devemos nos perguntar: a cultura que temos construído nas empresas tem facilitado a inclusão de toda a diversidade humana, ou ainda nos pautamos por preconceitos e resistências por tudo que é diferente de nós? Será que nossos sistemas são sustentados, de fato, pela inclusão das diferenças, ou simplesmente pelo cumprimento legal das cotas?                                                                                                                                                                                        A deficiência não começa no deficiente e sim em nosso olhar deficiente! Somos dirigidos por nossas crenças. E quais são elas, na essência? Continuamos pondo o foco nas deficiências, ou nas potências das pessoas com deficiência?

Rugenia Pomi
CEO Sextante Brasil